terça-feira, 30 de abril de 2013

Rio Grande do Sul: prisões revelam elo entre governo Yeda e o governo Tarso (e de Yeda e Fortunati)


Do site da Fundação Lauro Campos. laurocampos.org.br 
• Por Roberto Robaina em 29 de abril de 2013


As investigações e as prisões efetuadas pela Polícia Federal revelam pelo menos uma conexão existente entre os métodos corruptos do governo Yeda e os existentes no governo Tarso, entre o comando do PSDB e o do PT na gestão do Estado do Rio Grande do Sul. Uma afirmação tão contundente precisa ser demonstrada. O material da Polícia Federal, cujo trabalho, nas palavras do próprio governador, é irreparável, traz farta documentação acerca deste elo. Com os dados da Polícia disponíveis basta um mínimo de lógica para explicitar não apenas onde está o elo mas também quem são os políticos e quais são os seus partidos.

É óbvio onde encontra-se a ligação: na Secretaria do Meio Ambiente. Assim, podemos dizer simplesmente que durante mais de dois anos a frente da política ambiental do governo Tarso – ora na FEPAM, ora na própria chefia da Secretaria, estava um representante direto de uma quadrilha que vendia licenças ambientais para empresários corruptores. O Secretário do Meio Ambiente preso é um dos principais quadros políticos do PC do B. Carlos Fernando foi um dos dirigentes que impulsionou a liderança de Manuela D’Ávila, sendo parte fundamental de seu comando de campanha à prefeitura de Porto Alegre em 2012.

No governo Fortunati o Secretário do Meio Ambiente, Fernando Záchia, também foi preso. Mas a ligação entre os métodos políticos do governo Fortunati e do governo Yeda sempre foram mais visíveis. Afinal, o próprio Záchia, hoje preso, foi um dos chefes do governo Yeda, além de Cezar Busatto, também peça chave nos dois governos. Aliás, estes ligam Yeda e Britto.

Mas onde está a ligação entre o governo Yeda e o governo Tarso? Onde está a continuidade neste caso específico? A resposta poderia ser meramente genérica, baseada no fato de que em ambos os governos se revelam escândalos de corrupção. Mas é mais do que isso. A ligação tem organicidade. As investigações deixam óbvio que o governo Tarso carregou para o seu interior interesses que estavam sendo defendidos durante o governo Yeda, pelos representantes políticos do governo Yeda. Quem fez esta ligação?

As peças se juntam facilmente. Berfran Rosado foi outro dos presos na operação da Polícia Federal. Berfran foi precisamente o Secretário do Meio Ambiente da governadora Yeda. Atualmente, o que fazia? Era Consultor ambiental de empresas privadas. Saiu da pasta do meio ambiente e foi trabalhar na mesma área para os empresários. Até aí nenhuma novidade neste mundo político burguês. Mas Berfran não era um consultor qualquer. Com os líderes da prefeitura de Porto Alegre suas relações são íntimas e históricas. Trabalhou com Záchia no PMDB. Trabalhou com Busatto no PMDB e depois no PPS. Estiveram todos juntos no governo Britto e no governo Yeda. As relações de Berfran não terminam aí no mundo dos podres poderes burgueses. Berfran Rosado foi vice de quem? Nas eleições para a prefeitura de Porto Alegre em 2008 assumiu a parceria com Manuela D’Ávila, representante do PC do B. Na época, aliás, Luciana Genro denunciou o vice de Manuela (por sinal, denunciamos já em 1995. Mas isso é história. O PSOL também denunciou o Záchia…).

Vejamos, então, bem claramente. Depois das eleições municipais de 2008, como foi dito acima, Berfran teve lugar certo na política. Manuela perdeu e Berfran assumiu como Secretário do Meio Ambiente. Yeda deu o emprego para o amigo. Os empresários tinham seu representante na Secretaria. Meses depois Yeda perdeu as eleições para Tarso, mas a Secretaria do Meio Ambiente não mudou de lado. Mudou o governo, mas não a política levada adiante na Secretaria do Meio Ambiente. O PC do B assumiu a pasta. Carlos Fernando, um quadro já histórico do PC do B, entrou na FEPAM e depois na Secretaria do Meio Ambiente. Hoje foi preso também junto com Záchia e Berfran Rosado. Alguma dúvida de que as relações entre Berfran e Manuela continuaram depois da campanha? De que quando Berfran passou a ser consultor e o dirigente do PC do B assumiu a política ambiental o consultor não manteve ativa suas parcerias com o secretário? Carlos Fernando, dirigente de peso do PC do B, um dos impulsores da liderança de Manuela, fez, por sinal, parte do comando de Manuela-Berfran. E depois da eleição assumiu o lugar de Berfran. É preciso não aceitar a lógica para não ver que Berfran, Manuela e o PC do B formam o elo entre os dois governos. Se incluirmos o PTB os elos se fortalecem.

Num mundo em que uma dinastia corrupta como a cúpula dirigente da Coréia do Norte se autointitula comunista e em que a China promove o capitalismo pelas mãos do Partido Comunista não pode ser surpresa a contradição flagrante entre o nome e o conteúdo do nome, exatamente como ocorre com o PC do B, que leva comunista no nome, mas que sustenta – ou melhor, é sustentado em suas campanhas políticas – pelo financiamento de empresários, entre os quais, é claro, os corruptores da Secretária do Meio Ambiente, além de se aliar com políticos corruptos e neoliberais como Berfran Rosado. É óbvio que o comunismo verdadeiro, a defesa do bem comum, dos interesses públicos e da classe trabalhadora não tem nada que ver com isso. E exige, neste caso, a cassação das licenças ambientais obtidas ilegalmente, a prisão dos corruptos e dos corruptores.

Roberto Robaina é presidente da Fundação Lauro Campos e membro da Executiva Nacional do PSOL

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