No debate sobre a Lei Geral
da Copa 2014 no Brasil, nosso país tem sido tratado da forma como sempre foi
tratado pelos países centrais do capitalismo mundial: Uma ex-colônia, um país subdesenvolvido.
Se já não bastasse termos sido historicamente saqueados pelos principais países
da economia capitalista mundial, ainda somos estigmatizados como povo pouco
capaz intelectualmente e atrasados culturamente. É uma ideia etnocêntrica, ou
seja, se colocam como centro e referência para os povos “atrasados”. O perfil
do secretário-geral da FIFA Jérôme Valcke demonstra esta situação. Quando vem
ao Brasil cobra de forma veemente o governo brasileiro, como numa relação
patrão X empregado. Logicamente, esta posição advém da elite dos países
centrais e não do seu povo. Até por que a posição social de dominância é
inerente aos que exploram, os explorados, via de regra, não se colocam enquanto
“seres superiores”.
Mas, a pergunta que nos cabe é: Por que o Brasil se
subjuga, muitas vezes, a este tipo de comportamento? A resposta mais plausível
que se expressa é a política. Tanto a nossa, interna, como a externa. Lembram
como o então governo Lula conseguiu trazer a copa para o Brasil? Apesar de
ainda não haver comprovação, há fortes indícios de compra de votos por parte do
governo brasileiro. Mas a política, no âmbito das relações inter-burguesas, é
ainda mais podre. Tentemos pensar agora na relação do Governo Federal com os
magnatas do futebol brasileiro. Podemos caracterizar, de forma geral e correndo
o risco de se equivocar em conceitos pormenores dessa caracterização, os clubes
brasileiros como empresas privadas. Possivelmente, pagam impostos e tributos
exigidos pelo Estado brasileiro, tem receita própria e participam de grandes
eventos, inclusive faturando muito com isso. Com a copa do mundo, alguns
estádios estão sendo construído financiados com nosso dinheiro e, pós copa,
serão entregues a algumas dessas empresas privadas. O “Itaquerão” é o exemplo
mais conhecido. E por que o Itaquerão foi escolhido como estádio a ser
construído com investimento de dinheiro público e repassado a uma empresa
particular? Houve plebiscito popular dando poder de decisão ao povo sobre onde
investir seu próprio dinheiro? O primeiro questionamento nos remete rapidamente
a uma resposta do senso comum, mas que contém traços de ciência: troca de
favores; a segunda soa como uma piada, pois a relação Estado X sociedade no
Brasil inexiste. A democracia, por mais progressiva que seja em relação a
outros períodos históricos, é majoritariamente da elite, de 1% da população.
Além disso, estamos assistindo em todo Brasil as precárias condições de trabalho
para os operários que constroem os estádios, inclusive com algumas greves de
trabalhadores da construção civil nos estádios da Copa.
Outro debate gritante é sobre o consumo de bebidas
alcoólicas dentro dos estádios durante a copa. No Brasil, há alguns anos atrás,
houve um importante avanço no que tange esta questão. A proibição de comércio
de bebidas alcoólicas dentro dos estádios contribuiu na queda dos registros de
violência dentro dos estádios, no entanto, com a vinda da copa, haverá uma
flexibilização temporária das leis brasileiras para que, entre outras coisas,
possa haver a comercialização de bebidas alcoólicas nos estádios durante a
copa.
A explicação mais razoável para isso, se é que existe
explicação nesta insanidade, advém da ideia de que grandes empresas
capitalistas mundiais querem lucrar com a copa e, quando se trata de encher os
bolsos dos capitalistas, a política e o poder remodelam até mesmo dispositivos
legais de uma sociedade. Assim fazem por que os políticos, no geral, mantêm
relações intrínsecas e obscuras com grandes empresas visando, evidentemente,
algum tipo de financiamento. Legal ou não, para eles, é secundário. Quando
temos uma direção política entreguista isso se torna ainda mais fácil. Já
imaginaram se este processo ocorreria em países como Bolívia, Venezuela,
Equador ou Cuba? Muito provavelmente não, porém, evidentemente, a copa do mudo
não se realizaria nesses países, não atualmente.
Mas, há outro lado nessa história.