Nota do vereador Renato Cinco sobre a matéria da revista Veja intitulada “Vereadores e delegado aparecem em lista de doadores dos Black Blocs”
Cheguei ontem (13/02) ao Rio de Janeiro e fui surpreendido com a publicação, pela revista Veja, da matéria “Vereadores e delegado aparecem em lista de doadores dos Black Blocs”.
Antes de responder às absurdas acusações da revista, difundidas por outros veículos de imprensa, quero aproveitar a oportunidade para manifestar minha irrestrita solidariedade aos familiares, amigos e colegas de profissão do repórter cinematográfico Santiago Andrade, vitimado por uma ação violenta e irresponsável de dois supostos manifestantes na passeata contra o aumento das passagens de ônibus de 6 de fevereiro (quinta-feira). Também quero aproveitar o momento para lamentar a morte do idoso Tasman Amaral Accioly, que estava no local do protesto e, ao se assustar com as inúmeras bombas atiradas pela Polícia Militar, morreu atropelado por um ônibus.
Quanto às inverdades levantadas pela Veja, quero esclarecer o seguinte:
1) Ao contrário do que diz o site da revista, não dei dinheiro para os Black Blocs - que, como sabe qualquer pessoa mais informada (basta pesquisar na internet), não são uma organização, mas uma tática (ou modo de agir) adotada por qualquer um que, de forma anônima, destrua símbolos do capitalismo (bancos , sedes de empresas etc.) e confronte a polícia. Doei trezentos reais para o evento natalino político-cultural “Celebração da Rua - Mais Amor, Menos Capital”, organizado por ativistas do #OcupaCâmara - que, aliás, não escondiam de ninguém, inclusive da imprensa e das forças policiais, suas identidades.
2) A atividade “Celebração da Rua - Mais Amor, Menos Capital” aconteceu no dia 23 de dezembro, de forma pacífica, na Cinelândia. Não ocorreram confrontos com a polícia ou a destruição de símbolos do capitalismo. Nela, foram arrecadados e distribuídos, para a população de rua, alimentos e roupas. Além disso, foram promovidos debates e apresentações culturais. Ou seja, foi um evento cultural e beneficente, típico da época natalina (conforme pode ser confirmado na programação do evento e na própria “prestação de contas” divulgada pela Veja, ambas publicadas em anexo).
3) Como já afirmei inúmeras vezes, não concordo com a tática Black Bloc. Tal tática contribui, por conta do enfrentamento entre forças desiguais (os manifestantes e o aparato policial), para esvaziar as mobilizações populares, independentemente da vontade de seus protagonistas. Para mim, somente a mobilização de milhares de pessoas pode promover as necessárias transformações sociais. Por outro lado, é preciso lembrar que, até as mobilizações de junho de 2013, a tática Black Bloc não era difundida no Brasil (ela já existia em vários países). Ela só foi disseminada por aqui como reação à criminosa repressão policial às jornadas de junho, que vitimou milhares de pessoas e vários jornalistas (segundo a Associação Nacional de Jornalismo Investigativo, dos 70 casos de agressões aos jornalistas em protestos populares desde junho, 58 foram promovidos por policiais). Portanto, a escalada da violência somente terá fim com uma mudança radical de atitude das forças repressivas.
4) Repudio, com todas as forças, qualquer tentativa de envolver o PSOL com a morte de Santiago. Tais tentativas são uma forma de criminalizar tanto o partido quanto todos os lutadores sociais. Esperam, assim, evitar que a legítima indignação popular exploda em uma nova onda de manifestações em 2014, prejudicando os negócios escusos e os interesses eleitorais das classes dominantes.
5) Por fim, registro que, enquanto as justas reivindicações dos trabalhadores e da juventude não forem atendidas (pela redução das passagens de ônibus, por serviços públicos gratuitos e de qualidade etc.), continuarei a apoiar e a participar dos protestos populares - um direito garantido pela Constituição Cidadã de 1988.
13 de fevereiro de 2014.
Renato Cinco
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