Para
a bancada do partido, portaria do governo federal tem por objetivo
constranger a população a não se manifestar.
A
bancada do PSOL apresentou projeto para suspender portaria do governo
federal que autoriza a atuação das Forças Armadas em
manifestações. O documento do Executivo permite que as Forças
Armadas atuem nas chamadas operações de segurança pública, o que
inclui manifestações populares, como as ocorridas no ano passado.
Para o PSOL, a portaria tem por objetivo constranger a população a
não se manifestar, já que permite que as Forças Armadas atuem na
repressão aos movimentos sociais.
O
Projeto de Decreto Legislativo nº 1.441/2014, protocolado nesta
terça-feira, 4, pelos deputados do PSOL, Ivan Valente (SP), Chico
Alencar (RJ) e Jean Wyllys (RJ), visa sustar a Portaria 186/2014, do
Ministério da Defesa, chamada de “Garantia da Lei e da Ordem” e
que disciplina a atuação das Forças Armadas em manifestações
populares.
A
Portaria 186 revoga a nº 3.461/2013, também do Ministério da
Defesa, publicada no dia 20 de dezembro, que classificava as
manifestações como “forças oponentes”. Esse texto afirmava que
manifestações em vias públicas e ocupações de prédios deveriam
ser consideradas como “principais ameaças” à manutenção da
ordem, sujeitas à repressão das Forças Armadas caso ela fuja do
controle da Polícia Militar. Diante da repercussão negativa, o
governo federal editou nova portaria, retirando termos considerados
agressivos, mas manteve como base normativa a repressão aos
movimentos sociais.
No
que tange à liberdade de informação, por exemplo, a primeira
versão da portaria estabelecia que “em princípio, não deverão
ser impostas restrições ao livre exercício do jornalismo, a não
ser que a presença de pessoal da mídia possa comprometer o sucesso
da operação”. Já a nova versão da portaria dispõe que “Deve
ser resguardado o direito ao livre exercício da imprensa, excetuadas
circunstâncias em que houver manifesto risco à incolumidade física
dos profissionais da mídia ou da própria Operação de Garantia da
Lei e da Ordem”. Ou seja, o exercício da imprensa poderá ser
restringido de forma arbitrária pelas forças militares, sob
pretexto de “risco à própria operação”.
Na
opinião do PSOL, o documento produzido pelo Ministério da Defesa
tem por objetivo constranger a população a não se manifestar, já
que, em 2013, a população brasileira foi às ruas cobrar por, entre
outros pontos, transporte, saúde e educação de qualidade – com o
padrão FIFA, como ficou conhecido. Agora, com a justificativa de
garantir que manifestações não ocorram durante a Copa do Mundo de
2014 e outros grandes eventos, o governo instala o arbítrio e põe a
democracia brasileira em risco diante da possibilidade de repressão
militar aos movimentos sociais.
Líder
do PSOL cobra explicações do ministro da Defesa
O
líder do PSOL, deputado Ivan Valente, também protocolou
requerimento de informações nº 3.950/2014, cobrando explicações
do ministro da Defesa, Celso Amorim, sobre a possível atuação das
Forças Armadas em manifestações populares.
No
documento, Ivan Valente questiona se há treinamento específico,
inclusive em formação de direitos humanos, por parte das Forças
Armadas em manifestações urbanas, qual o número de militares, qual
o tipo de armamento letal e não letal que será utilizado e se
existe previsão orçamentária para a operação chamada “Garantia
da Lei e da Ordem”. O deputado quer saber ainda se, caso haja
violação dos direitos humanos, existe estrutura específica, como
uma ouvidoria ou corregedoria, para investigar de forma imparcial os
fatos.
“Ocorre
que, na verdade, houve apenas algumas pequenas mudanças pontuais na
nova versão da portaria, mas que não compromete a lógica de
inimigo e de guerra proposta pelo documento anterior. Ou seja, as
alterações foram apenas maquiagens jurídicas que não mudaram
substancialmente a natureza da portaria: continuará sendo a base
normativa para atuação das Forças Armadas na repressão aos
movimentos sociais, em pleno desacordo com a Constituição Federal.
Ainda subsistem inúmeras dúvidas e questionamentos acerca das
regulamentações do Ministério da Defesa na Garantia da Lei e
Ordem”, afirma Ivan Valente, no requerimento.
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